Tia Ciata, cujo nome de nascimento era Hilária Batista de Almeida, foi uma figura icônica na história da cultura afro-brasileira. Nascida no recôncavo baiano, em Santo Amaro, no dia 13 de janeiro de 1854 e falecida no Rio de Janeiro, em 1924, Tia Ciata desempenhou um papel fundamental na preservação e promoção das tradições culturais afro-brasileiras, especialmente na música e na religião. Curandeira, foi uma das responsáveis pela sedimentação do samba carioca e tornou-se, portanto, uma espécie de primeira dama das comunidades negras da Pequena África.
Origens e Legado Cultural de Tia Ciata
Tia Ciata nasceu na Bahia, local profundamente enraizado na cultura afro-brasileira devido à forte presença de descendentes africanos escravizados. Ela era filha de uma mãe Nagô e um pai Jeje, dois grupos étnicos africanos com tradições culturais distintas. Desde jovem, Tia Ciata foi exposta a ritmos, danças e crenças religiosas africanas, influências que moldariam seu futuro.
Migração para o Rio de Janeiro
No final do século XIX, aos 22 anos, Tia Ciata mudou-se para o Rio de Janeiro. Ela se estabeleceu na região conhecida como Pequena África, uma região vibrante e multicultural chamada assim por ser habitada por muitos afrodescendentes. Residia em um casarão que era uma legítima casa de cômodos, com seus 6 quartos, 2 salas, um longo corredor e quintal com árvores.
Foi nesse ambiente que ela se tornou uma figura central na preservação da cultura afro-brasileira. Tia Ciata morou, inicialmente, na Pedra do Sal, no Beco João Inácio e na rua da Alfândega. Também residiu na rua General Pedra e na rua dos Cajueiros. Também morou na rua Visconde de Itaúna, que deixou de existir para dar lugar à Av. Presidente Vargas. Finalizou seus dias na Cidade Nova, entre os anos de 1899 e 1924.
Música e Dança Afro-Brasileira na casa de Tia Ciata
Tia Ciata era baiana e fez de sua vida um trabalho constante. Tornou-se, com as outras tias conterrâneas, a iniciadora da tradição das baianas quituteiras no Rio de Janeiro. Com suas roupas características, colares e pulseiras, desenvolvendo uma atividade cercada por forte fundamento religioso, era uma mulher que tocava instrumentos de percussão e cantava músicas africanas e afro-brasileiras. Ela foi uma das figuras-chave na disseminação do samba, que na época estava emergindo como uma forma popular de expressão cultural no Rio de Janeiro. Seu espaço, uma singela casa na Pequena África, tornou-se portanto um centro de encontro para músicos, dançarinos e devotos das religiões afro-brasileiras.
Nas festas, suas habilidades de “partideira” a destacavam nas rodas de partido-alto. Uma missa cristã acontecia, seguida pela cerimônia de candomblé. Com violões, pandeiros e ganzás, músicos e capoeiristas armavam um pagode com muito samba após a devoção.
Casa de Tia Ciata: berço do primeiro samba gravado
Tia Ciata, “partideira” respeitada, não deixava o samba morrer. Em suma, providenciava para que as panelas sempre estivessem quentes, promovendo em sua casa, saraus e bailes ao som de maxixe no salão da frente, sem esquecer um bom samba lá no fundo do quintal e com uma cerimônia de candomblé encerrando as festividades. Portanto, se alguns podem ter ido para outro samba afamado da época, é certo que muitos preferiram a nova casa de tia Ciata, na rua Visconde de Itaúna, estrategicamente localizada perto da Praça Onze.
E bota “muitos” nisso, pois ao longo dos cerca de 20 anos que Ciata morou na Praça Onze, outras tias baianas famosas na época frequentaram sua casa. Contudo, além de suas amigas, que também eram filhas de santo, apareciam por lá tia Dadá, Tia Amélia (mãe do Donga), Tia Prisciliana (mãe de João da Bahiana), tia Veridiana (mãe de Chico da Bahiana), tia Josefa Rica, tia Tomásia , o jornalista Vagalume, o ator Alfredo de Albuquerque e importantes nomes da música popular como Hilário Jovino Ferreira, Donga, Pixinguinha, João da Bahiana, Heitor dos Prazeres, Sinhô, Caninha, Didi da Gracinda, Marinho que Toca (pai do compositor Getúlio Marinho), Mauro de Almeida, João da Mata, João Câncio, Getúlio da Praia, Mirandella, Mestre Germano (genro de Ciata), China (irmão de Pixinguinha) e Catulo da Paixão Cearense.
No quintal de sua casa foi criada a música “Pelo Telefone”, em 1916, considerado o primeiro samba gravado. (Clique aqui para terminar sua leitura)