O protagonista da minha história NO AGORA sou eu!
Estou sentada, trabalhando, há muitas horas hoje. Sobre minha cabeça, uma luminária com luz bem forte, que costumo acender mesmo de manhã. Há dois dias, duas pequenas mariposas voavam em direção à luz. Ocasionalmente, desciam até minha cabeça, sobrevoavam minha visão e voltavam para a luz. Não interferiam em absolutamente nada no que eu fazia. Mas, ocasionalmente, me incomodavam.
Focada no que eu fazia, aqueles sobrevoos na minha cabeça começavam a me irritar. Não, eu não estava chateada ou brava. Estava me incomodando o fato de perder o foco no que eu fazia para espantá-las. Não demorou muito, fiz um movimento de palmas para tirar a mais dançante dali e ela imediatamente caiu, estatelada, em cima do notebook.
Imediatamente, fui tomada por uma horrível percepção de crueldade. Coloquei a bichinha na minha palma da mão, ainda agonizando. Chorei, de verdade. Pedi perdão a ela e ao seu par com quem ela dançava tão alegremente. Sabia que sua vida não voltaria. Mas a mim, só restava me reconectar àquele serzinho. Não desejava lhe fazer mal. Só não a queria no meu caminho, tirando meu foco.
É só tirar se nos incomodar?
E, desde então, me pego pensando em quantas pessoas nós tentamos tirar do que aborrece nosso foco e para quem fazemos mal, sem querer, sem nenhuma intenção inicial, mas que acabamos por produzir alguma forma de “espantamento”, distanciamento, silêncio…
O que a mariposinha produziu em mim não veio dela. Nem de sua morte. Menos ainda de sua agonia. Foi tão somente resultado do meu ato. Inconsequente, egóico, impaciente.
Quando ouço a Monja Coen dizer que não mata baratas, me sinto indignada. “Como não? Pois eu não durmo, se aparecer uma, enquanto não a matar!”
É realmente necessário tirar alguém de nosso caminho somente porque nos aborrece? Por nos causar medo? Por nos causar asco? Não há uma forma de espantar dali e deixar o que nos incomoda seguir seu rumo? Por que não acendi outra lâmpada e apaguei a da luminária? A mariposa teria voado para lá… A impulsividade foi minha. A atitude também. A consequência igualmente foi uma atitude minha.
O “agora” da impulsividade X o “agora da racionalidade
Portanto, somente eu sou responsável pelo ato. Não somos nós os responsáveis pelo que apagamos constantemente de nossa rede emocional? As tecnologias digitais não medem nada. Menos ainda seus algoritmos. Números que mostram muito “nada”… Quem tá com a gente, tá perto, tá longe e presente, tá constante ou com uma qualidade imensa de “estar”. Rede social é, talvez, no máximo uma vitrine. Mas, a mariposa continua aqui, mostrando o quanto o ser humano ainda precisa olhar mais para fora para conseguir olhar para dentro.
Mais do que nunca, faz sentido parar de comer carne. É possível existir sem precisar interromper o caminho do outro. Para focar, não é necessário matar insetos. Consigo me proteger sem sujar minhas mãos, ainda que seja com Baygon. Eu só preciso seguir o meu caminho. Seguir meu objetivo. E ser cuidadosa com quem está à minha volta. Tem tanta gente que verbaliza isso sem conseguir praticar! Tem tanta gente que diz “gratidão” sem entender internamente o que significa ser grato, de verdade.
A singeleza do AGORA enquanto “estamos”
Nesse momento, me sinto grata à mariposa. Ela me permitiu enxergar o quanto fui horrível com o outro para ser “mais eu”, para ser uma pessoa produtiva, focada e com meus resultados pessoais atingidos. Me perdi no processo. Pois é APENAS o processo que faz alguma diferença. É o tal do agora… O que escolho fazer AGORA é que vai dar resultados ali na frente. Não controlados, numa lógica cartesiana “faço-colho”, mas na simples vivência da experimentação de acordo com minha própria ética.
Seu companheiro veio a ela, mas seguiu. Percebeu o fato e seguiu o seu “agora”. Precisamos aprender com a singeleza da vida. Não somos, estamos. E enquanto evocamos esse “ser” baseados em histórias cheias de memórias feridas, reproduzimos novas histórias com mais dor. Sejamos amor, em essência. Praticando. Refletindo. Perdoando… A nós e a quem quer que seja. Não foi a culpa que me fez refletir sobre meu ato, mas a indignação da ação em si. Que você não carregue culpas em sua vida, mas que tenha uma mochila bem pesada e cheia de boas reflexões, resultando em uma pessoa muito melhor…
“Permita que eu fale. Não as minhas cicatrizes” (Emicida – Amarelo). ♥
Ana Paula Castro